Após um ano conturbado e cheio de intempéries e situações que derrubaram diversas economias mundiais, apresentando sinais concretos de recuperação, diversos países foram e continuam sendo afetados por uma pandemia que assola todo o planeta. Alguns países foram ágeis, criaram regras rígidas e situações para contenção ao avanço da Covid-19, mas mesmo assim, as perdas em vidas já se aproximam da casa de dois milhões.
Ao final de 2020, diversos cientistas, laboratórios e universidades apresentaram as possíveis vacinas que, teoricamente teriam a capacidade de imunizar parte da população, frear a transmissão do vírus e, assim, estancar o elevado número de infecções diárias, diminuindo as estatísticas quanto a perda de preciosas vidas mundo afora.
Alguns países já iniciaram seu processo de imunização, dentre eles, a generalidade dos países da União Europeia, Reino Unido, Estados Unidos, Israel, Bahrein, Rússia, Canadá, China, Índia, Argentina, etc., agregando mais um número as estatísticas: a quantidade de imunizados. Tal processo, contudo, está condicionado, entre outros aspectos, pela capacidade de produção dos laboratórios e pelas exigências de logística, o que podem acabar atrasando o processo de vacinação em alguns países. Além disso, há que se comprovar, na prática da imunização generalizada, a efetiva eficácia das vacinas utilizadas.
O início da vacinação no Brasil
O Brasil ainda não iniciou seu processo de imunização e espera iniciar seu dia “D” em 23 de janeiro, utilizando 2 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela britânica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford e fabricado pelo Serum Institute da Índia. A intenção é iniciar a vacinação em abrigos de idosos de todo o país e posteriormente, profissionais da saúde e os indígenas. Mas porque iniciar a vacinação pelos idosos?
Com base nos dados epidemiológicos atuais, a letalidade entre os longevos com mais de 60 anos, supera em mais de 25% em comparação aos casos confirmados em outras faixas etárias. Ou seja, de cada 4 longevos infectados pelos vírus, 1(um) acaba vindo a óbito. Outro dado importante que deve ser observado e já informado pela OMS e diversos especialistas é:
– “Não vai ter vacina suficiente para toda a população neste ano, então o que está sendo orientando é que exista uma priorização para profissionais de saúde e pessoas acima de 65 anos ou que tenham alguma doença associada”.
E no exterior?
Em comunicado publicado no dia 14 de setembro, o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização (Sage), da OMS, afirma que os imunizantes são um bem público. “O objetivo geral é que as vacinas contra a covid-19 contribuam significativamente para proteção e promoção equitativas do bem-estar humano entre todos os povos”, escrevem os especialistas.
Nessa linha, existem iniciativas para que as vacinas sejam ofertadas em primeiro lugar aos grupos prioritários do mundo todo antes de serem disponibilizadas à população geral dos países com melhores condições para fabricar ou comprar as doses. As propostas sobre os grupos prioritários variam um pouco entre os países.
Contudo, e os calendários na prática, profissionais de saúde e idosos de todas as nações seriam imunizados antes dos outros. “Isso exigiria uma grande discussão global, com acordos multilaterais, parcerias e quebras de patentes”.
Podemos copiar?
Por mais que os modelos estrangeiros sirvam de inspiração, não devemos acreditar que seja possível adotar um caminho único para todos os países.
“É preciso levar em conta as particularidades de cada local, como a pirâmide etária, a quantidade de idosos e o tamanho da população”, aponta o diretor da SBIm¹.
As previsões sobre se a vacinação em massa ocorrerá ainda em 2021 ou 2022 também dependem do tipo de vacina que será aprovada pelas agências regulatórias. “Alguns imunizantes sintéticos podem ser produzidos em larga escala num curto espaço de tempo, enquanto outros, que necessitam de organismos vivos e laboratórios mais complexos, podem demorar”, cita o médico Renato Kfouri.
Tampouco, no atual cenário, é possível se basear em alguma política adotada para conter a pandemia de H1N1, há cerca de 11 anos. “Naquele momento, não aprendemos a usar máscaras. Os países pouco cooperaram em relação às vacinas. Poderíamos ter aprendido mais com essa experiência de 2009 e desenvolvido estratégias melhores para lidar agora com a pandemia de Covid-19”, lamenta o médico.
[1] SBIm: Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Renato Kfouri: Médico Pediatra, primeiro secretário da SBIm e presidente da Sociedade de 2011 a 2014, especializou-se em infectologia pediátrica na Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). É membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, presidente do Departamento de Imunizações da SBP, membro da Diretoria de Cursos e Eventos da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), membro da European Society of Pediatric Infectious Diseases (ESPID) e membro da Sociedad Latinoamericana de Infectologia Pediatrica (SLIPE).